No mais fundo de ti,eu sei que traí, mãeTudo porque já não souo retrato adormecidono fundo dos teus olhos.Tudo porque tu ignorasque há leitos onde o frio não se demorae noites rumorosas de águas matinais.Por isso, às vezes, as palavras que te digosão duras, mãe,e o nosso amor é infeliz.Tudo porque perdi as rosas brancasque apertava junto ao coraçãono retrato da moldura.Se soubesses como ainda amo as rosas,talvez não enchesses as horas de pesadelos.Mas tu esqueceste muita coisa;esqueceste que as minhas pernas cresceram,que todo o meu corpo cresceu,e até o meu coraçãoficou enorme, mãe!Olha — queres ouvir-me? —às vezes ainda sou o meninoque adormeceu nos teus olhos;ainda aperto contra o coraçãorosas tão brancascomo as que tens na moldura;ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal…Mas — tu sabes — a noite é enorme,e todo o meu corpo cresceu.Eu saí da moldura,dei às aves os meus olhos a beber,Não me esqueci de nada, mãe.Guardo a tua voz dentro de mim.E deixo-te as rosas.Boa noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade
A ouvir aqui
Uma escolha maravilhosa!
ResponderEliminarEspero que ambos estejam bem!
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Carrego no colo a saudade
Beijo e um excelente dia para todas as Mães.
Fique em casa.🌹
Olá Cidália.
EliminarPor aqui, continuo a investir em formação, começando a sentir-me cansado.
Tal como diz "fique em casa". Não gosto nada dos casos de euforia a que tenho assistido, fruto das últimas medidas políticas. É que as máscaras não nos conferem imunidade.
Coragem por aí, muita força e sorte (que esses sistemas imunológicos estejam a 100%)
Muito sentido e comovente. Gostei muito de ler
ResponderEliminar.
Um domingo feliz
Cuide-se
O seu poema para este dia também está muito bem conseguido e sentido.
EliminarEspero que os leitores do blogue passem no seu espaço para lê-lo.
Abraço.
Só para dizer que amo de paixão este poema do Eugénio de Andrade.
ResponderEliminarÉ magnífico.
EliminarBeijo grande.